sábado, 31 de maio de 2008

Gel contra a AIDS



Testes, testes e mais testes — o gel antiaids ainda vai passar por muitos deles antes de chegar ao mercado. Um caminho que vai levar, segundo estimativa dos pesquisadores, no mínimo cinco anos. E olha que os estudos com a substância já ultrapassam uma década. Eles começaram em 1996, quando a bióloga Valéria Teixeira, da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, identificou e isolou o composto químico dollabelano diterpeno em uma alga marinha chamada Dictyota pfaffii. Ela foi coletada no Atol das Rocas, paraíso ecológico em alto-mar que pertence ao estado do Rio Grande do Norte.
As investigações iniciais mostraram que essa substância agia como um poderoso microbicida contra o HIV. E ganharam impulso após a adesão ao projeto do Instituto Oswaldo Cruz e da Fundação Ataulpho de Paiva, no Rio de Janeiro. Foi quando surgiu a idéia de acrescentar o composto a um gel lubrificante — e com uma finalidade precisa, que seria a proteção do organismo feminino.
Os primeiros experimentos em laboratório provaram a eficácia da droga contra a contaminação e empolgaram os pesquisadores. Eles, então, mergulharam mais fundo nos trabalhos e, muito além das cobaias, passaram a esquadrinhar a ação do gel em células do útero humano. Os resultados foram pra lá de animadores. “Observamos que o dollabelano diterpeno consegue sobreviver por várias horas na flora vaginal sem sofrer grandes alterações e sem perder sua eficácia”, explica Luiz Roberto Castello Branco, coordenador do Centro de Desenvolvimento e Testagem de Microbicidas do IOC/Fiocruz. “Para o sexo anal não sabemos se o efeito será o mesmo. Na mucosa dessa área há bactérias que podem interferir na ação do gel”, completa. De qualquer forma, os estudos clínicos só vão começar após a comprovação da segurança do produto.
No Brasil, apenas em 2006 mais de 32 mil novos casos de contaminação pela aids foram registrados no Ministério da Saúde. E foi no sexo feminino que as taxas da doença mais cresceram nos últimos anos (veja o gráfico abaixo). “Os microbicidas estão sendo vistos como uma nova fronteira na prevenção da doença em mulheres, que muitas vezes deixam de usar camisinha por uma questão cultural e se expõem a um risco enorme de contágio”, conta Mariangela Simão, diretora do Programa Nacional DST/Aids do Ministério da Saúde. Ela faz uma ressalva importante: “A chegada desse gel ao mercado não vai dispensar o preservativo. Ambos deverão ser usados para barrar o vírus”.


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